quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Especial Halloween: A Fúria, de Brian de Palma

Após o sucesso estrondoso com um dos filmes de terror mais famosos da história do cinema (Carrie, a Estranha), Brian De Palma se aventura a filmar mais um longa do gênero: A Fúria (The Fury, 1977). Ambos os filmes possuem um foco em comum, que é a paranormalidade. Quem viu Carrie..., lembra dos poderes extra-sensoriais da menina, que com a força de sua mente, consegue mil e uma façanhas.

A Fúria é também um drama tão envolvente quanto Carrie..., e me arrisco a dizer que possui até melhores atuações. Não é para menos. Com um elenco que conta com Kirk Douglas, John Cassavetes e Amy Irving, nem o filme mais caído poderia sair ruim. O que não é o caso. Enfim, vamos falar sobre a atuação mais adiante, e nos focar primeiramente na trama do filme.

Peter Sandza (Kirk Douglas) é um agente secreto americano que, após a morte de sua mulher, é alocado no Oriente Médio. Lá ele cria o seu filho, Robin (Andrew Stevens), um rapaz extremamente sensitivo, e dotado de poderes paranormais.

Só que o que Peter não esperava era que a própria rede para qual ele trabalhava possuia interesses nos poderes psíquicos de seu filho, para serem usados em fins militares (já que o rapaz, com sua mente, tinha possibilidade até de matar, caso fosse treinado para isso).
O filme já começa com toda a trama armada: pai e filho estão se divertindo numa praia, enquanto o responsável pelo serviço secreto e suposto amigo de Peter, Ben Childress (John Casssavetes), planeja o assassinato dele. Logo, homens com trajes orientais começam a atirar em direção a Peter, que consegue fugir para uma barca. O filho, que foi levado para um lugar seguro, observa toda a luta do pai contra os terroristas, e também assiste quando eles acertam um tiro na barca, fazendo ela explodir.






Robin, acreditando que viu a morte de seu pai, fica desolado. Childress manda levarem o menino para longe. Logo descobrimos que Peter havia pulado para fora do barco antes dele pegar fogo, e ao se dar conta de toda a tramóia de Childress, atirou em seu braço esquerdo.
Tempos depois, em Chicago, para onde Robin foi levado, Peter procura por ele desesperadamente, mas precisa ao mesmo tempo fugir de Childress e sua gangue, que já percebe os movimentos dele.

Ao mesmo tempo, uma garota rica chamada Gillian (Amy Irving) demonstra poderes também paranormais iguais aos de Robin, só que mais fortes. Sabendo disso, Peter procura a moça, na esperança de que ela ajude a encontrar seu filho.

Gillian possui o dom de ter visões passadas e futuras, mas enquanto as tem, faz as pessoas a quem ela toca sangrarem absurdamente. Assustada e depois de sofrer vários contratempos com suas visões, ela decide se abrigar em um instituto paranormal, para que estudem seus poderes.















Enquanto está lá, Gillian começa a ter visões sobre Robin, sem saber quem ele é, e descobre que ele está sendo altamente drogado e passando por uma série de testes torturantes, como asssitir ao filme do atentado onde seu pai havia “morrido” (Childress havia mandado filmarem tudo, para usar em testes no futuro). Uma seqüência que nos remete de imediato a Laranja Mecânica, de Kubrick.

Gillian quer conhecer Robin e ajudá-lo, mas os médicos do local tentam privá-la. Childress, informado dos poderes de Gillian, começa a explorar o caso e decide que quer ela no lugar de Robin imediatamente.

Só que nesse mesmo instituto paranormal, Gillian conhece Hester (Carrie Snodgress), que não por acaso é amante de Peter, e que irá ajudá-la a sair da clinica, antes que Childress faça o mesmo que fez a Robin com ela. Hester lhe conta toda a verdade sobre Robin, e Gillian aceita ajudar Peter a encontrá-lo.


ATENÇÃO! Se você não deseja saber o final do filme, não leia a parte em vermelho.



Ao encontrar Robin, eles percebem que o rapaz está totalmente tomado pela fúria, depois de todos os medicamentos e experimentos realizados. Robin mata Kristen ( Rutanya Alda), a médica que cuida dele (e por quem ele tem uma leve queda), girando-a pelo ar e fazendo-a sangrar sem parar.


Peter tenta conversar com Robin, e fazer que ele volte a si, mas é tarde demais: o rapaz está totalmente vidrado e acaba por se jogar de uma janela. Ele cai no chão do pátio, onde está Gillian, agora acompanhado de Childress. Por um momento, temos os olhos de Robin e Gillian se cruzando, e um brilho muito intenso sai dos olhos deles e se encontram, como numa transmissão de fluídos. Robin morre. Peter, desolado e inconformado, se joga pela janela e morre também.



No fim do filme, uma das melhores cenas do cinema se apresenta. Childress tenta convencer Gillian a se juntar a ele, se oferencendo para cuidar dela e ajudá-la. Percebendo que era o alvo de uma nova experiência, obviamente, Gillian beija os olhos de Childress, sugando sangue deles e deixando-o cego. Depois, ela canaliza forças interiores da sua mente e acaba por explodir Childress. apenas com esses poderes. Essa cena é lindíssima, efeito especial usado de forma brilhante, onde vemos quase em slow motion o corpo de Childress explodindo. Além disso, De Palma filma a mesma cena sob vários ângulos, e o filme termina nesses flashes chocantes que com certeza nunca sairão da mente daqueles que assistiram o filme.




É um filme com uma estética muito sombria. A trilha sonora de John Willians brilhatemente se encaixa nas cenas de maior tensão, criando um suspense ao nível de Hitchcock (não é a toa que De Palma é conhecido como um sucessor do metstre do suspense).
A atuação de Kirk Douglas na busca do filho raptado (e como veremos no final) é visceral. Ele enfrenta a tudo e todos, intrépido e determinado. Nunca perde as esperanças, e bola todo tipo de plano para conseguer aquilo que almeja.

Mas não é só a atuação de Kirk que está brilhante, como todas: John Cassavetes está perfeito no papel de Childress, um homem ambicioso e cínico, que faz das maiores arbitrariedades e ostenta uma pose convincente de que fez a coisa certa: fenômenal.
Amy Irving também não deixa a desejar em seu papel principal, com suas expressões faciais criadas detalhadamente. E até mesmo o próprio Robin, que possui poucas cenas no filme, tem seu aspecto depressivo e furioso bem trabalhado.

Robin é a fúria, é a revolta contra a exploração que sofreu, nas mãos dos agentes secretos. Ele adquire a raiva e a intolerância como parte de seu ser, e a transmite a Gillian, no final do filme. Como vemos na cena do parque de diversões, onde orientais estão brincando numa roda gigante. Robin ficara furioso ao ver a cena, remete logo ao acidente com o pai, e com o poder de sua mente, faz o brinquedo se descontrolar, soltando os dois orientais que estavam nela.

Há cenas que sugerem uma esperança ao espectador, quando no ônibus, Peter diz a Gillian que tudo irá dar certo (o que não acontece). E realmente esperamos por um happy end, apesar de sabermos que se trata de um filme de Brian De Palma, onde quase sempre o personagens importantes morrem, frustrando nossas expectativas. Vejamos. Em Carrie, a Estranha, o final é bizarro, com a menina matando a mãe. Em Carlito’s Way, a morte de Carlito Brigante no fim é algo que nos faz assistir o filme milhares de vezes, inconformados com este desfecho, e na esperança de que Carlito sobreviva e consiga finalmente chegar ao trem. Em Scarface, temos a morte de Tony, personagem que consegue sobreviver heroicamente e no fim tem sua morte declarada. Assim como uma série de filmes do diretor...

A paranormalidade, assunto que gera controvérsias dentro e fora do meio científico, justamente por não ser algo cuja a existência seja justificável, e ainda mais com o número enorme de falcatruas existentes, é um tema bastante explorado pelo diretor, que sabe preencher seus filmes com um mistério atordoante. Ele te convence a pensar na veracidade de tudo aquilo. Não é como um filme de terror comum, cujo vampiros e fantasmas nós sabemos (?) que não existem, mas é algo que está oculto ainda, mas nos é denunciado por Brian de Palma como um mistério que existe, mas sobre o qual nós não estamos totalmente cientes.

Que outros mistérios como esse poderão existir nesse vasto mundo, onde tudo é possível?
Reflita com o filme.

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