quarta-feira, 7 de julho de 2010

Crítica de Cinema: Garota Infernal (Jennifer's Body), 2009

Sinopses matam o filme
por Brunna Antunes




Jennifer. A garota popular da escola. A mais linda e desejada de todas as garotas do segundo grau. Aquela que pega qualquer um que quiser, na hora que bem entender. Líder de torcida. Megan Fox. Pronto, está feito o banquete.

Essa receita hollywoodiana já é conhecida. Os filmes teenagers já tem um público alvo cativo e um espaço sacramentado nas salas de cinema. Os famosos "filminhos" de fim de tarde, pra se assistir no fim de semana com o paquerinha da escola.

Porém, aqui tem um ingrediente especial: Diablo Cody, a roteirista. Depois de sua genial sacada com o roteiro do filme Juno (Juno, 2007), com o qual recebeu o merecido Oscar na categoria de Roteiro Original, Diablo se arrisca num barco sem volta, indo direto para o Triângulo das Bermudas.
Garota Infernal (Jennifer's Body, 2009) é um filme que tinha tudo para ser diferente, mas acabou sendo mais um entre milhares de filmes que entram em cartaz no cinema e saem sem deixar qualquer vestígio.

Para começar, o roteiro é até bem estruturado. O que não fica muito claro é a motivação dos personagens. Tenho a impressão de que esse aspecto não foi nada explorado. A personagem Needy (Amanda Seyfried), por exemplo, é a nerd deslocada, melhor e talvez única amiga verdadeira da popular Jennifer. Elas são totalmente opostas, mas a amizade, que é forte desde a infância, faz com que elas sejam inseparáveis, apesar das diferenças. É interessante a forma como isso é bem afirmado pela relação entre as duas durante o filme. Contudo, não existe nenhuma certeza do real sentimento da Needy por Jennifer. Se é um amor fraternal ou se é carnal, posto que algumas cenas dão a entender isso.



Jennifer é solteira, enquanto Needy tem um namorado fixo, o Chip (Johnny Simmons). Logo, Jennifer é a mulher de todos, e bem no início do filme isto fica bastante claro, a partir das suas interações com um pretenso policial, com quem já teve um caso, e até mesmo na fala de Chip, quando ele pergunta à Needy quem a Jennifer "está visando na noite".

Needy, apesar de ter um namorado, ser nerd e tudo mais, está nas mãos de Jennifer, para acompanhá-la em suas loucuras, tipo ir num bar xexelento para caçar homem no meio da semana. Aí está mais uma prova desse amor inexplicável de Needy por Jennifer. Que tipo de garota sai no meio da madrugada para arranjar homens para a amiga, enquanto o namorado está tentando transar com ela? A Needy faz isso.

Jennifer cisma com um vocalista de uma bandinha (Adam Brody) que ela viu no Myspace e decide conquistá-lo na noite em que eles vão tocar nesse bar. E ela consegue, obviamente. Mas ocorre um incêndio no bar. Milhares de pessoas morrem, um caos. Jennifer e Needy conseguem se salvar, e toda a banda também, misteriosamente. Logo o vocalista da banda, que estava de olho em Jennifer depois das investidas da moça, a convida para um passeio de van. Ela aceita. Needy vai para casa, desesperada, prevendo que algo de ruim vai acontecer.

É aí que a série de eventos nefastos acontecem: Jennifer volta ensaguentada na casa de Needy, na mesma noite. O motivo não é revelado, mas logo descobrimos, com a sucessão do filme, que ela come pessoas, literalmente. E sai comendo todo homem que der na telha, particularmente os da sua escola.



Até este ponto, não sabemos de nada. Tudo nos cheira como um filme tedioso e previsível. Porém, mistérios pairam no ar ainda: O que aconteceu naquela van? O que está acontecendo com Jennifer? Por que tudo isso começou, do nada? Começou de fato do nada? Foi ela que provocou o incêncio no bar? Milhares de perguntas brotam na mente do espectador, que decide assistir até o final, apenas porque está intrigado com esse bando de mistérios não-resolvidos.

Agora, se não fosse a terrível sinopse, essa maldita ferramenta que ao mesmo tempo que nos ajuda a escolher qual filme assistir, nos revela e estraga seu suspense, esse filme seria bem melhor. Uma faca de dos gumes, a tal sinopse.

Veja só este exemplo, retirado do Cinepop:
"Jennifer, uma popular líder-de-torcida linda (Megan Fox), é sacrificada injustamente pelo líder de uma banda, que faz um pacto com diabo para conseguir lançar um CD. Eles pensavam que ela era virgem, mas erraram. Jennifer acaba sendo possuída por um demônio e acaba tendo que se alimentar de sangue humano, sacrificando garotos para se satisfazer."

Está certo que é uma sinopse bem feita, que cumpre com o seu papel de informar o tipo de história que o filme aborda. Só que em Garota Infernal, a graça do filme, que era a surpresa, o mistério de não sabermos as dúvidas que foram levantadas lá em cima...se perdeu com a leitura da sinopse! Por isso digo que a sinopse mata o filme. Ou pelo menos ele perde uns 50% da graça, para espectadores que assistem filmes com uma intenção maior do que preencher o vazio de uma tarde.

Então, fica aqui a dica: da próxima vez que for ver um filme, procure não ler a sinopse. Aposto que a experiência será muito mais satisfatória.

Voltando ao filme em si, apesar de ter um roteiro dentro dos moldes e sem falhas muito relevantes, ele ainda tem um quê de simplório. Diablo Cody poderia ter explorado bem mais a questão da necessidade de Jennifer se alimentar de carne humana, e isso não ser apenas uma questão de estética como é apresentado no filme, em que a protagonista faz isso apenas para melhorar sua aparência.
Outra coisa que volto a repetir é a respeito dos personagens: a caracterização é over, sempre buscando esteriótipos para as vítimas de Jennifer (o jogador de baseball da escola, o gótico). Isso é muito recorrente em filmes teenager, por isso não se pode negar de que se trata de um.

O filme tem seu charme, mas ainda falta alguma coisa. Talvez a motivação dos personagens seja uma delas. Mas não consigo parar de pensar que mais uma vez a sinopse estragou tudo...

Bom, mas a trilha sonora até que é interesante. Vale a pena dar uma conferida em algumas músicas, como a do Panic! At The Disco:

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